Complementos Verbais e Adjuntos Adverbiais: Uma distinção entre categorias congruentes
- Introdução
O presente trabalho pretende explorar as nuances da gramática da Língua Portuguesa, sob o viés da Minigramática, de Maria Aparecida Paschoalin e Neuza Terezinha Spadoto, e da Gramática Normativa da Língua Portuguesa, de Rocha Lima.
Essa investigação se concentrará em definir e elucidar as distinções entre complementos verbais e adjuntos adverbiais, duas categorias gramaticais cruciais na construção e interpretação das sentenças, levando em consideração que a diferença entre essas elas, muitas vezes, apresenta-se em um limiar nebuloso.
Dessa forma, a compreensão desses elementos é essencial para uma expressão linguística precisa e coerente. Ao longo deste estudo, exploraremos as características distintivas de cada categoria, destacando suas funções específicas na estrutura das orações, pretendendo deixar as diferenças entre os termos um pouco mais clara.
2. Complemento Verbal
Primeiramente, Paschoalin e Spadoto definem a categoria de complemento verbal como:
São complementos verbais os termos da oração que complementam o sentido dos verbos transitivos diretos e dos verbos transitivos indiretos: o objeto direto e o objeto indireto. (Paschoalin e Spadoto, 2014, p. 232. Grifos das autoras.)
Rocha Lima, por sua vez, não necessariamente define o que é um complemento verbal, apenas lista classes de palavras que podem assumir o papel de complemento; objeto direto, objeto indireto, complemento relativo e complemento circunstancial.
Dessa forma, no que é comum a ambas as referências, percebemos que o complemento verbal possui uma ligação com os objetos diretos e indiretos que complementam, respectivamente, o verbo transitivo direto, ligando-se a ele sem a presença de preposição, e o verbo transitivo indireto, ligando-se a ele com a presença de preposição.
Exemplos de Paschoalin e Spadoto:
Porém, antes de classificações e mais nomenclatura, o que nos interessa é o uso efetivo do complemento, diferenciando-o do adjunto. Por isso, é importante entender que os complementos verbais são essenciais para a expressão de sentido da frase.
Sob uma perspectiva semântica, podemos entender os complementos como palavras que são exigidas pelo verbo, respondendo às perguntas “o que?” e “quem?”, feitas ao verbo:
Vimos você ontem no cinema. Quem foi visto? Você — Complemento do verbo;
Os alunos assistiram à peça. O que foi assistido? A peça — Complemento do verbo.
Já, analisando sintaticamente, é possível perceber que o complemento verbal, como o nome já diz, ocupa a posição de complemento do sintagma verbal, assumindo linearidade na árvore sintática, sem a necessidade de duplicação dos sintagmas.
No exemplo “Maria preparou vegetais”, onde vegetais é o que foi preparado, ou seja, complemento verbal, temos a árvore:
Sistematizando, temos várias maneiras de entendermos o papel e a função do complemento verbal. Primeiramente, segundo a gramática tradicional de Paschoalin e Spadoto, que de maneira sucinta, o define como os objetos diretos e indiretos que complementam o sentido da frase.
Já, analisando o sentido e a semântica, é possível compreendê-lo como um termo essencial da oração, que responde às perguntas “o que?” e “quem?”, feitas ao verbo. Por fim, a sintaxe nos demonstra, visualmente, a posição do complemento na frase, com o sintagma nominal em complemento do sintagma verbal.
3. Adjunto Adverbial
Inicialmente, Paschoalin e Spadoto definem os adjuntos como termos da oração denominados acessórios porque não aparecem como núcleos de outros termos. Ou seja, diferentemente dos complementos, os adjuntos não possuem papel essencial para a formação do sentido da oração. Já, especificamente sobre os adjuntos adverbiais, as autoras destacam:
“Adjunto adverbial é o termo que acompanha, principalmente, o verbo, para indicar circunstâncias de tempo, lugar, modo, etc.” (Paschoalin e Spadoto, 2014, p. 241. Grifos das autoras.)
Por sua vez, Lima apresenta a seguinte definição para os adjuntos adverbiais:
É o termo que acompanha o verbo, exprimindo as particularidades que cercam ou precisam o fato por este indicado. É expresso por um advérbio, como “Cometeu o crime premeditadamente” ou por uma expressão adverbial, como “Partiremos de madrugada” (Lima, 2011, p. 318. Adaptado)
Especificamente, ao olharmos para os adjuntos adverbiais, deparamo-nos com uma gama de possibilidades. Os gramáticos citados anteriormente elucidam que esses termos têm a notável função de acompanhar o verbo, desempenhando o papel de indicar circunstâncias que permeiam diferentes contextos. Essa versatilidade permite que a expressividade da língua alcance uma amplitude significativa, tornando possível transmitir não apenas a ação em si, mas também o contexto que a envolve.
Com exemplos apresentados por Paschoalin e Spadoto, podemos enxergar um pouco o papel dos adjuntos adverbiais nas orações:
Nesse exemplo, vemos que a oração “Meu pai entrou” é completa em si, sem necessitar complemento, por conta da intransitividade do verbo. Porém, ao adicionarmos os adjuntos adverbiais, damos mais informações sobre o lugar e o modo que o sujeito entrou.
Aqui, temos a presença tanto do complemento verbal quanto do adjunto adverbial na oração. “Fizemos nossas compras” é uma oração completa em si, com sujeito, verbo e complemento. Já, a presença do “ontem” dá mais especificidade à oração, com informações adicionais, por mais que não sejam obrigatórias para o sentido completo da frase.
Dessa forma, Paschoalin e Spadoto definem 16 tipos de adjuntos adverbiais, cada um com sua função na oração:
Tempo: Trabalhei doze horas por dia
Lugar: Adoro ir ao teatro
Modo: Falou sobre o livro com entusiasmo
Afirmação: Sim, ele viajará com certeza
Negação: Não aceitarei a proposta, em hipótese alguma
Dúvida: Talvez eu seja perdoada por ele
Intensidade: Falou muito pouco
Meio: Quando criança, viajava de trem
Instrumento: Podiam-se as plantas com uma grande tesoura
Companhia: Eu ia ao cinema com meu irmão
Causa: Com a seca, meu jardim acabou
Fim, finalidade: Viajo sempre a negócio
Matéria: Fez um vaso com jornal
Preço: Não compro mercadoria pirata nem por um real
Concessão: Apesar da chuva, saímos
Assunto: Aqui se fala muito sobre política
Por fim, podemos observar sintaticamente a posição do adjunto que, por não ser termo obrigatório da oração, cria a necessidade de duplicação dos sintagmas.
No exemplo “Maria preparou vegetais para nossa refeição”, onde para nossa refeição assume papel de adjunto adverbial de finalidade, temos a árvore:
Sintaticamente, é possível perceber a distinção entre os complementos e os adjuntos, devido à posição que ocupam na árvore. A oração “Maria preparou vegetais” é completa em si, visto que não exige mais complementos. Porém, ao elucidarmos que “Maria preparou vegetais para nossa refeição”, o adjunto de finalidade adiciona mais informações à frase, caracterizando o verbo. Por isso, o VP é duplicado, para dar espaço na árvore para a posição do adjunto.
4. Conclusão
Os complementos verbais, como destacado por Paschoalin e Spadoto, revelam-se como peças-chave para o sentido completo das frases, respondendo às perguntas semânticas essenciais de “o que?” e “quem?”. Através da análise sintática, compreendemos que esses elementos ocupam uma posição linear na árvore sintática, contribuindo para a estruturação precisa das orações.
Por outro lado, os adjuntos adverbiais, seja de tempo, lugar, modo, entre outros, surgem como acompanhantes versáteis do verbo, adicionando nuances e particularidades que enriquecem o contexto da ação verbal. A diversidade de funções atribuídas pelos gramáticos, como demonstrado por Paschoalin e Spadoto, permite uma expressividade que vai além da ação básica, capturando as circunstâncias que a rodeiam.
Em suma, a compreensão aprofundada de complementos verbais e adjuntos adverbiais não apenas aprimora a análise gramatical, mas também eleva a habilidade do falante em construir discursos mais ricos e precisos. Neste universo da língua, a distinção entre essas categorias congruentes é a chave para desvendar a complexidade e a beleza da comunicação linguística.
REFERÊNCIAS
LIMA, Rocha. Gramática normativa da língua portuguesa. Rio de Janeiro: José Olympio, 2011.
PASCHOALIN, Maria Aparecida. SPADOTO, Neuza Terezinha. Minigramática. São Paulo: FTD, 2014.